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O Clube de Fãs do Luis Cardoso

Texto e fotos: Alberto Pires (www.motox.pt)

O Luis Cardoso é o responsável pelo meu gosto pelas motos, pela minha evolução e envolvimento no motociclismo. Na realidade, neste meio, devo-lhe tudo.


Pertenci a um grupo de fãs, no final da minha adolescência, durante os anos que vivi em Vila Real. Apercebo-me agora que fui “groupie” sem o saber. Conheci o Luis Cardoso aos 15 anos quando ele ainda não tinha moto, mas já corria no Europeu e no Mundial de velocidade. Fazia-o sempre que lia as revistas Moto Revue e Moto Journal francesas. Era seguramente quem mais percebia de motos numa cidade que gostava de ouvir os motores a gritar.


Sonhador, imaginava ir trabalhar para as vindimas em França, comprar uma RDLC 350 com o apuro, alinhar no Troféu Yamaha Gauloises e no ano seguinte participar no Campeonato de Europa aos comandos de uma TZ 250, com tudo pago, o prémio estipulado pela Yamaha para o vencedor do troféu. Eu achava que o plano fazia todo o sentido!



 

Falar de mim, não é o propósito deste website.

Não me julgo merecedor de destaque que possa ser interessante para os meus leitores.

No entanto, entendi oportuno reproduzir este artigo que o meu amigo "Tinho" (Alberto Pires) teve a gentileza de publicar em www.motox.pt

Para que fique o registo, éramos guardadores de sonhos, otimistas e temerários mas, neste caso concreto, Guisande em fins de 1982, seria bastante expectável que eu ou o Tó Costa Paulo tivéssemos conseguido ganhar algum dinheiro para a viagem de regresso!

No Racing Teixeira onde, desde Agosto de 1982, eu corria, o Tó Costa Paulo apenas ocasionalmente correu nesta formação, era regra que ao piloto cabia suportar as suas próprias despesas e a inscrição nas corridas, á equipa cabia suportar todas as despesas e logística referente às motos! O prémio de chegada em dinheiro, a existir, deveria ser rachado ao meio e os troféus eram, alternadamente, para o piloto ou para a equipa!

Quando embarcamos nesta aventura, o Tó Costa Paulo tinha acabado de se sagrar Campeão Nacional de 50cc Racing Júniores e eu tinha vencido a prova extra-campeonato anterior, Valpaços! Portanto não era completamente descabido esperar resultados, pelo menos um dos dois, que nos permitissem o capital para o regresso...

(Luís Cardoso)


Nas fotos, salve o erro que a 40 anos de distância penso ser justicavel, identifico:

foto 1: eu (em cima da moto), de costas o Zé Mé (Zé Carneiro, meu colega de equipa do Marco de Canaveses que nessa altura já corria nos Séniores) e de frente com blusão vermelho e ar pensativo o Pedro Correia (Racing Dimitrius);

foto 2 (nesta caixa): eu, nas boxes do circuito de Vila Real, foto tirada pelo Tinho, julgo que em 1981

foto 3: enquanto federado, a primeira vez que me desloquei para participar numa corrida, 25 de Abril de 1981. A corrida ia disputar-se em Stª Isabel (Carvalhos) e foi anulada porque estava chover e o piso era todo em paralelo! Nunca cheguei a correr com a moto como aqui se apresenta! A foto é da autoria do Pedro Santelmo ou do João Moreira, o carro e o atrelado (habitualmente utilizado para a caça) eram do saudoso Sr. Palheiros. Os amigos que acompanhavam pagavam a sua quota parte da viagem para terem o previlegio de pertencer a tão nóvel equipa!

foto 4: vista geral da pré-grelha de 50cc Racing Júniores.

foto 5: da esquerda para a direita, o Pedro Correia, eu e o Jó

fotos 6, 7 e 8: eu

fotos 9, 10, 11, 12 e 13 (galeria): 50cc Racing Júniores, só identifico o Manuel Duarte nas fotos 12 e 13.

foto 14: José Pereira (1) e Tózé Monteiro (5)

fotos 15, 16 e 17: Tó Costa Paulo

fotos 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29 e 30 (galeria): 50cc Racing Séniores, José Pereira (1), Tózé Monteiro (5), José Ferreira (7), José Pinto (9), António Ferreira (15) e, penso que, com o capacete branco/vermelho s/número identificável o Fernando Leite Ribeiro.

 


Inevitavelmente, o Luis Cardoso acabaria por correr de moto. Como em todas as estreias, sobretudo quando limitadas financeiramente, é quase confrangedor perceber em que condições. Bem sei que já passaram mais de 40 anos, mas é estranho como considerava na altura que, não sendo de topo, aquilo era uma moto de pista!


Tinha até orgulho no “cantilever” traseiro, acionando um amortecedor encontrado numa sucata, a solução engenhosa para ultrapassar o facto de não haver dinheiro para comprar dois amortecedores, não necessariamente bons. Olhamos em redor e custa a estabelecer a hierarquia entre o mau, o péssimo e o terrível. O correto, mesmo, é usar um filtro que só

existia anos ’80, e então vemos uma máquina fabulosa!


Apesar dos meios, e de tudo correr invariavelmente mal, o Cardoso conseguiu atrair as atenções e acabaria por ser convidado em 1982 para correr numa das Sachs do “Racing Teixeira”. Tendo como referência o ponto de partida era como estar numa equipa de fábrica!


Já não precisava de andar com a moto atrás, fosse em cima do “atrelado” ou desmontada na mala de um Citroen GS, bastava-lhe chegar com o seu fato “Lewis Leathers” e carregar o cartuxo! Ainda assim tinha que se socorrer do seu clube de fãs para lá chegar.



Com o Jó, à direita na imagem, dotado de uma calma imperturbável!


Para a prova de Guisande, uma aldeia próxima da Vila da Feira, o transporte foi garantido pelo Jó, no seu Volkswagen Carocha. Tinha-lhe custado dois contos (10 €), mas como não tinha motor comprou outro Carocha, também por dois contos, para resolver o problema. Infelizmente nenhum deles travava bem. Antes de cada curva tinha que calcar por três vezes o pedal para injetar, e só depois é que abrandava. Foi bastante animado descer a Serra do Marão até Amarante pela estrada antiga. Para terminar em beleza, recordo-me que descemos também a Rua de Fernandes Tomás, no Porto, sem parar em nenhum dos semáforos vermelhos, com o Jó a injetar com toda a força! Sobrevivemos para contar, mas julgo que até o Tó Costa Paulo, que tinha ido connosco por ser o mais recente reforço do “Racing Teixeira”, sentiu um arrepio na espinha!


Chegados a Guisande, o panorama não era animador, já que a chuva miudinha exponenciava os imponderáveis do costume.





O Luis Cardoso alinhava na prova de juniores e o Costa Paulo em seniores. A grelha de partida era feita tendo como base o resultado de uma mini corrida de cinco voltas, numa espécie de “superpole” em que se arrancava sem se saber exatamente em que posição. O Cardoso não chegou a completar uma volta, já que na primeira travagem a sério, em quarta a fundo, assim que tocou nos travões foi pelo chão fora. Só parou junto à soleira de uma porta, deixando a velhinha que lá estava, assustada, aos gritos! Na corrida a desgraça continuou, talvez por causa do malho entrou água para onde não devia, só a custo voltou a pegar mas, como não andava nada, obrigou-o a desistir.





Já o Costa Paulo, na prova de seniores, estava a mostrar o que valia. Conseguiu fazer o melhor tempo dos treinos e lutaria seguramente pela vitória na corrida, mas a partir da segunda volta começou a sentir dificuldades em curvar, sobretudo nas curvas mais apertadas, baixando para a quarta posição. O quadro não aguentou o esforço a que foi submetido nas travagens e partiu junto à coluna de direcção. A direcção acabou por ficar presa numa zona em quarta a fundo, e só a muito custo é que a conseguiu controlar até parar.


Levantava-se agora outro problema: o Carocha não tinha gasolina para fazer os 160 km de regresso a Vila Real! A razão era simples. Estavam a contar com os prémios de chegada para cobrir essa despesa, e como ambos desistiram… Não restou outra alternativa senão pedir algum dinheiro emprestado ao Sr. Teixeira que, como se não bastassem as duas desistências ainda teve que adiantar algum. Para rematar, já atordoados de fome, parámos num café a meio da viagem algures entre Penafiel e Amarante para comer alguma coisa. Espremidos os bolsos contámos 10 escudos (2 cêntimos), o que só chegava para comprar um pastel. Dividimo-lo em quatro e seguimos!


Sonhador, piloto (50 cc, 125 cc), jornalista (MotoSport, MotoJornal), dirigente federativo na FNM, responsável pela comunicação da Aprilia, criador de uma marca (Cose da Moto), team manager (125 promoção, Troféu Honda CBR, 125 Racing, Mundial de 250cc), organizador de provas, concessionário oficial de motos (Honda, Yamaha, Aprilia…), editor de publicações, importador de vestuário e acessórios, CEO comercial e de marketing da Mugen Race.


Como sonhador ainda vai a meio, felizmente!


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